Há alguns anos, fui convidada a palestrar em uma empresa sobre bissexualidade. Ao meu lado, estavam um gay e uma transexual.
Ela foi a última a contar a sua trajetória e um dos destaques foi nos mostrar que depois de muita luta e marginalização, ela finalmente tinha conquistado um emprego na área de tecnologia – uma área geralmente machista e dominada por homens heterossexuais brancos.
O relato daquela mulher transexual foi elucidador. Ela estava mostrando que era a minoria da minoria, porque em sua grande maioria, a população é marginalizada e geralmente sobrevive com a prostituição.
Mas há grandes representantes da causa transexual no Brasil e no mundo que estão transformando esse cenário. Ainda há muito pela frente, considerando que a própria comunidade LGBTQIA+ muitas vezes também exclui o T.
Foi apenas neste ano de 2018 que a transexualidade deixou de ser considerada um transtorno mental pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A transexualidade entrou, por 28 anos, no CID (Classificação Internacional de Doenças).
Veja vídeo de uma transição
No Brasil, estudos acadêmicos sobre a transexualidade já mostravam a importância de discutir o gênero em meados de 2010, como relata Diego Madi Dias ao citar uma das grandes expoentes brasileiras destes estudos: Berenice Bento.
Berenice relata que “quando fazia campo no hospital, tudo o que eu lia dizia que aquelas pessoas sofriam de um transtorno de identidade gênero ou eram disfóricas. Algumas referências trabalhavam com a ideia de ‘transexualismo’. Mas eu não conseguia ver isso, eu podia ver jogos, negociações”.
Há protocolos hospitalares que precisam ser seguidos, mas havia algo “diferente ali”, segundo Berenice. “Elas colocavam a melhor roupa para ir ao hospital. Chegavam perfumadas, maquiadas. Era estranho ver aquelas mulheres vaidosas, bonitas, no ambiente absolutamente decadente do hospital. Não combinava. Eu me perguntava como aquilo era possível. Ao mesmo tempo, elas estavam reproduzindo um discurso totalmente marcado pela ideia de uma identidade feminina hegemônica: subalternidade, passividade. E no caso dos homens trans* era visível o discurso que valorizava a virilidade. Mas quando eu ia às suas casas, aqueles discursos proferidos no ambiente do hospital ficavam sem sentido. Elas trabalhavam, se sustentavam e, em alguns casos, também sustentavam seus maridos. No caso dos homens trans*, a virilidade discursiva dava lugar a homens que compartilhavam as tarefas domésticas e performatizavam uma masculinidade sensível. Não se encaixava no que eles e elas diziam e a prática.
De acordo com Berenice, o hospital era um lugar de negociações, de tensão, e principalmente de relações de poder.
O BlogSouBi fez uma entrevista, em 2015, com o psiquiatra coordenador do Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual (AMTIGOS), Alexandre Saadeh. Há 7 anos, o Brasil ainda engatinhava em relação a cirurgias feitas pelo SUS. Em 2015 “foram operadas 30 pessoas no AMTIGOS.
Na linha de obstáculos se encontra ainda a cirurgia para viver no corpo do gênero do qual se identificam. No Brasil, ainda estamos engatinhando na quantidade de cirurgias feitas pelo SUS. ”Foram operadas 30 pessoas no AMTIGOS gratuitamente. Fechamos agora uma triagem de cerca de 80 adultos. Todo o processo pode demorar até 15 anos aqui no Brasil”.
Em 2018, o processo ainda estava muito lento. Segundo reportagem do G1, quase 300 transgêneros estavam esperando cirurgia na rede pública. “As pacientes e os pacientes fazem dois anos [de acompanhamento] e estão prontos [para a cirurgia], mas não adianta eles estarem prontos porque a gente não consegue dar vazão. A gente não consegue fazer quatro, seis cirurgias por mês, mas só uma cirurgia. Esse é o problema. Se a gente tivesse duas ou três equipes, eles não precisariam esperar tanto”, disse ao G1, a ginecologista Mariluza Terra, que trabalha há 19 anos com a saúde da população trans no Hospital das Clínicas da UFG, em Goiás.
Em 2018, o governo federal havia feito o pagamento de 474 procedimentos cirúrgicos a transgêneros, considerando que o Processo transexualizador, no SUS, foi criado em 18 de agosto de 2008, a partir de uma portaria do Ministério da Saúde.
O que é o masculino e o feminino?
Nem todos os trans desejam fazer cirurgia da genital, chamada de redesignação sexual ou readequação sexual. O norte-americano Buck Angel, uma importante voz transexual, veio ao Brasil em 2015 para dizer que não tinha problemas em ser um homem com vagina. “O que é ser um homem, é ter um pênis?”, questionou em sua apresentação no 23° Festival Mix Brasil em que o BlogSouBi esteve presente. “Eu amo ter uma vagina e estou muito bem com ela”.
Antes de começar a tomar hormônios e abandonar o corpo de Susan Lee – seu nome de batismo -, Buck Angel tentou suicídio na adolescência, usou drogas e morou na rua. Foi internado pelos pais em uma clínica. Os especialistas o consideraram doente quando afirmou que se sentia como um homem. O “diagnóstico” mudou quando encontrou uma pessoa que o ajudou a descobrir que ele poderia ser quem sempre quis.
Seja livre para seguir o caminho da sua verdade. A seguir, conheça os principais locais para acompanhamento e cirurgia.
Conheça os principais serviços
São Paulo
Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais
Endereço: Rua Santa Cruz, 81 – Vila Mariana – São Paulo – SP
Informações: 0800-16-25-50 ou 5087-9833
Núcleo TransUnifesp (NTU)
Endereço: R. Napoleão de Barros, 859 – Vila Clementino.
Ambulatório Especializado em Processo Transexualizador (AME PRO Trans)
Endereço: R. Piracicaba, 114 – Gopouva, Guarulhos – SP
Telefone: 2451-3052
Ambulatórios do SUS:
Ambulatório | Cidade |
CPATT – Centro de Pesquisa e Apoio a Travestis e Transexuais | Curitiba/PR |
Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia | Rio de Janeiro/RJ |
Hospital Universitário Professor Edgard Santos | Salvador/BA |
Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS | São Paulo/SP |
Ambulatório do Hospital das Clínicas de Uberlândia | Uberlândia/MG |
Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes | Vitória/ES |
- Ambulatórios das redes de saúde estaduais
Ambulatório | Cidade |
Ambulatório Transexualizador da Unidade Especializada em Doenças Infectoparasitárias e Especiais | Belém/PA |
Ambulatório de atenção especializada no Processo Transexualizador do Hospital Eduardo de Menezes | Belo Horizonte/MG |
Ambulatório Trans do Hospital Dia | Brasília/DF |
Ambulatório LGBT Darlen Gasparelli | Camaragibe/PE |
Ambulatório de Saúde de Travestis e Transexuais do Hospital Universitário Maria Pedrossian | Campo Grande/MS |
Centro de Saúde Campeche | Florianópolis/SC |
Centro de Saúde Estreito | Florianópolis/SC |
Centro de Saúde Saco Grande | Florianópolis/SC |
Ambulatório de Saúde Trans do Hospital de Saúde Mental Frota Pinto | Fortaleza/CE |
Ambulatório de Transexualidade do Hospital Geral de Goiânia Alberto Rassi | Goiânia/GO |
Ambulatório para travestis e transexuais do Hospital Clementino Fraga | João Pessoa/PB |
Ambulatório de Saúde Integral Trans do Hospital Universitário da Federal de Sergipe | Lagarto/SE |
Ambulatório LGBT Patrícia Gomes, Policlínica Lessa de Andrade | Recife/PE |
UPE, Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros | Recife/PE |
Ambulatório LBT do Hospital da Mulher | Recife/PE |
Ambulatório de Estudos em Sexualidade Humana do HC | Ribeirão Preto/SP |
Ambulatório do Centro Estadual de Diagnóstico, Assistência e Pesquisa | Salvador/BA |
Ambulatório trans do Hospital Guilherme Álvaro | Santos/SP |
Ambulatório Municipal de Saúde Integral de Travestis e Transexuais | São José do Rio Preto/SP |
Ambulatório AMTIGOS do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas | São Paulo/SP |
Ambulatório Roberto Farina, UNIFESP | São Paulo/SP |
UBS Santa Cecília | São Paulo/SP |
Ambulátorio de Saúde Integral de Travestis e Transexuais João W. Nery | Niterói/RJ |
Sobre a Transexualidade, tenho dito, que o “primeiro passo” é verificar junto à mãe se ela desejou muito ter a prole de único gênero ou buscar tal informação pela hipnose: a própria pessoa relatando a vivência intrauterina! Porque lembro a saudosa Rogeria: que “explicou” ser travesti mas Astolfo! A sexualidade exercida, “independente” do travesti ou ser Astolfo! E foi da época da sexualidade fluida: homens e mulheres, ligados por coleguismo ou ideologia politica, namoravam “hetero” mantendo relação homo, muitas vezes, em mesmo dia! Quando ouço de cantores ou políticos daquela época, hoje avôs e avós, na opinião dos netos, em especial, “como famílias unidas” nem imaginam que possam ter se relacionado homoafetivamente! Como sou cisgenero, mas aguardado do gênero oposto, elogiam minha característica “feminina” de ouvir, aconselhar, que despertou em muitos homens a atração, ainda mais se já éramos amigos! Nem deixaram de ter ereção pelo meu corpo “masculino” como pelos e voz e, nem eu deixei de relaxar e me excitar pela performance deles na transa! Noutra ponta, tivemos a Roberta Close, que foi em nosso País, presumo a primeira mulher trans, decidida desde a adolescência na sexualidade e no gênero “a seguir”, digamos assim!
Parabéns pela matéria!
Muito importante a divulgação dos locais.