Já estamos acostumadas a sentar em um restaurante, nos beijarmos e, rapidamente, chamarmos atenção.
Não necessariamente são ares de reprovação, mas em sua maioria de curiosidade. Afinal, duas mulheres juntas ainda causam esse tipo de sensação.
Pedimos as nossas bebidas e, enquanto esperávamos os pratos, uma mulher com seu marido passou a dirigir o olhar a nós.
Esse olhar era constante, até incômodo, porque ao desviar o olhar e olhá-la novamente, ela continuava lá, resistente, impassível. Não desistia.
Ela tinha um olhar triste, não sorria. Não era um flerte. Parecia ser um pedido de socorro. Ela tinha os olhos claros, cabelos longos, lisos e pretos. A tristeza em seu semblante deixava opaco qualquer um de seus traços.
Em dado momento, o marido falou com ela e aparemente apertou seus braços. Não havia delicadeza, mas ao mesmo tempo era uma brutalitalidade disfarçada, praticamente imperceptível.
Tive uma sensação intensa de desconforto. Minha vontade era perguntar se ela estava sofrendo. Perguntar porque ela ainda suportava aquele tipo de coisa.
Mas eu nem sabia absolutamente nada da vida dela. Não sabia nem distinguir se aquela cena realmente dizia alguma coisa e se ela realmente precisava de ajuda.
Seria uma brincadeira? Fiquei até na dúvida se ele realmente apertou os braços dela. Geralmente, essas pequenas violências passam desapercebidas, as pessoas relevam. Ficam até na dúvida se algo aconteceu. Eu fiquei. Não sabia se eu realmente tinha vivenciado uma cena de violência, porque foi tudo muito rápido.
Como ela agiu normalmente, parecia não haver nenhum problema. Só mais um dia, só mais uma atitude. Só mais uma vez.
Eles se levantaram, deram as mãos e foram embora. Tudo dentro da normalidade. Quem está de fora, muitas vezes não enxerga as marcas. O vermelho, o amarelo e o roxo são escondidos propositalmente. Fica o rosto frio, sem vida, que delata um problema àqueles que em poucos relances conseguem perceber qualquer falta de animosidade.
É triste. Poderia ser uma história de uma mulher que se inspirou naquela cena de amor entre eu e minha esposa e teve vontade de ser quem é. Com um homem, com uma mulher ou sozinha – com a liberdade que todo mundo deveria ter.
Posso imaginar a sua angústia em ver aquela cena e ficar na dúvida , se deveria intervir ou não.
Muitas vezes não é fácil ser nós mesmos, é algo que é conquista diária e nem sempre completa;mas não devemos desistir, a nossa liberdade um dia vai chegar e sentiremos plenamente a liberdade de sermos quem somos de verdade.
Verdade, Ana! Ainda temos muita luta pela frente, né? Vamos juntas!
Sim. Vamos em frente na luta!!
Penso que a luta é na forma em geral…acho muito errado todas as questões…o homem pode e a mulher não…é errado ser isso ou aquilo…há um tempo senti vontade após muito reprimir de usar roupas femininas na rua…tenho corpo masculino, mas ainda não me defini, prefiro pensar que sou livre…e o simples fato de usar uma calça jeans mais justa, com sandália já foi motivo para eu ouvir muitas besteiras a ponto de achar que iria apanhar…a luta realmente é muita
Enquanto houverem sexualidades mal vividas, haverão casais fakes! Poderia ele estar “desconfortável” como marido e ela ter percebido que o heteronormativo, anda “falido”! Em Fernando de Noronha, outrora almocei com taxista do citytour, mas o taxi estacionado longe do restaurante, entramos juntos e a mesa, o garçom conduziu o momento como casal, dizendo que o prato daria para dois! Já na minha cidade, o garçom mesmo sendo restaurante dentro do hotel, chegou a ser vulgar na paquera, a distância, deixando uma perna a frente, sugerindo curtir receber sexo oral! Isso porque colegas dele eram homens! Imaginei a vida pessoal dele sem maturidade sexual!!!